28 de abr. de 2009

A bandeira do Brasil

No ônibus, mais uma vez viajando nos pensamentos absurdos da minha cabeça enquanto a ida ao trabalho parece durar uma eternidade, aconteceu um fato curioso: depois de esperar na parada, sobe no coletivo mais um que se aglomera e se contorce no corredor em meio a tantos outros, imaginando inocentemente contribuir para que o movimento de sobe-e-desce flua positivamente. Eu vou sentada, dando graças por morar próximo ao fim da linha, onde consigo escolher o melhor lugar.
Um típico sujeito do subúrbio das cidades populosas, de crescimento rápido, recente e nem-um-pouco-planejado: roupa esfarrapada, cabelo desgrenhado e pele mulata. Ele estava só e ia procurando dar passagem aos demais, defendendo, categoricamente, um pequeno maço nas mãos. Só não via quem não queria: o homem tinha em suas mãos a bandeira do Brasil.
O retrato do nosso país: ônibus com gente saindo pelo ladrão, trânsito engarrafado, rostos cansados ainda no início da manhã e, o meio disso tudo, uma pessoa tão simples ostentando a nossa bandeira.
Opa! Peraí, pára tudo!!! Como assim, uma bandeira de verdade? Sim. Era de papel colorido e embrulhada num plástico. Mas era de verdade, e talvez seja a mais verdadeira e bonita que já vi, pois ia grudada ao peito, espontaneamente segurada pela mão direita, bem próximo ao coração.
Será que o pobre homem sabe o que ela significa? O que suas cores simbolizam? Sua história ou importância política? Será que ao menos sabe ler “ordem e progresso”? A julgar pelo zelo com o maço que carregava, posso apostar que sabia de tudo muito mais do que qualquer um de nós.

26 de abr. de 2009

Casulo humano


Nesta última semana, em que mais um feriado de abril se passou, em que outro político demagogo realizou showmício no bairro onde moro e quando o preço da passagem conseguiu, mais uma vez, tirar o meu bom-humor, avistei um casulo humano.

Era uma manhã um pouco fria e fresca, decorrente das (por mim ansiosamente esperadas) madrugadas de outono. Ocasião em que saímos para trabalhar vestindo casaquinhos e jaquetas que nos farão “descascar” antes mesmo de chegar ao meio-dia... No Centro, com todo movimento dos transeuntes, eu, apressada (para variar, passava do meu horário), deparei-me com um grande embrulho branco jogado na calçada. Uma pessoa – repito: uma pessoa –, dormindo, inteiramente embrulhada num pano branco sujo, em posição fetal. Não parecia velho o suficiente para já entender as obrigações dos adultos; entretanto, não mais aparentava ser criança, pois demonstrava já ser um tanto crescido.

Um meio termo de pessoa, deitado em uma meia-calçada de pedras soltas, dividindo o caminho com cusparadas e a marcha apressada. Meio dormindo, meio acordado. Pela metade, assim como a vida que leva. Uma subvida.

Mas era desenvolvido e demonstrava condições físicas para descobrir-se e encarar o dia ensolarado que a todos se apresentava. Assim como uma borboleta, que abandona o casulo quando é hora de voar, quando a natureza determina que seu corpo está pronto e pode sustentar-se por conta própria. Acontece que, diferentemente da borboleta, o homem vive em sociedade. Ele tem de ser integrado, valorizado, pois depende humana e psicologicamente de seus iguais e não dormir escondido num casulo para sempre. Mesmo que queira.