2 de ago. de 2012

Hoje não é o meu dia...


... foi o que escutei em alto e bom som na manhã de hoje, enquanto desenrolava arduamente e sem nenhuma destreza o fio dos meus fones de ouvido. O desabafo veio de uma senhora não tão velha, talvez com seus 50 anos, que vinha em minha direção ofegando, com uma bolsa pesada debaixo do braço e xingando por ter perdido o ônibus. Neste instante, o mundo parou para mim, fiquei cega e envolvida somente com meus pensamentos fervilhantes, exatamente como acontece sempre que brilha na minha mente um novo texto para este blog.

Antes mesmo de responder qualquer coisa, fiquei matutando o que poderia ter levado aquela senhora a afirmar aquilo. Ora, se ela vinha correndo, significa que é livre para ir aonde quiser, que não precisa mendigar ou depender da boa-vontade de outros para levá-la a algum lugar. Se falou comigo, é porque ainda tem a felicidade de crer que pessoas na rua naquele local e horário podem ser cidadãos de bem, não todos bandidos que não merecem sequer uma menção de "bom dia". Se ia para o trabalho ou cumprir qualquer outra programação, não sei e nem me importa: apenas esqueci a frase infeliz que ouvi e pensei na força que ela ainda tem para colocar o corpitcho para funcionar, saia à rua e ver o sol lindo que brilhava no céu.

Por acaso ela não conhece pessoas que tenham problemas infinitamente maiores do que a perda do ônibus? Gente que, por motivos muito mais graves, ainda assim não proferem um infeliz "Hoje não é o meu dia..." ao acordarem? Indivíduos que perdem familiares próximos, que convalescem em nossos hospitais malditos, que vivem cercados pelo medo, miséria, solidão e morte... Não seria reservados a eles o direito maior de acharem que todos os dias também não são "os seus dias"?

Eu creio que o mundo pode sim ser um morango, como muitos dizem, isso depende de nós. As eleições estão aí para a gente tentar fazer de nossa cidade um lugar um pouco melhor para se viver, e ainda temos que escutar essa frase lamentável de uma pessoa forte e sadia. Defrontando-me com essa situação, tive ainda mais certeza de que quero continuar trabalhando, estudando, construindo a minha vida, sorrindo por aí, não só para eu me sentir bem comigo mesma, mas para humildemente ajudar os desafortunados, nem que seja com uma palavra de carinho, a deixarem de remoer os dias cinzentos e darem valor ao que conseguiram conquistar até hoje. E foi exatamente o que eu fiz com aquela senhora quando ouvi essa injúria. Apenas respondi: "o próximo ônibus já está a caminho, tenho certeza que a senhora não vai chegar tão atrasada".

Abraço!

1 de ago. de 2012

Eu acredito nisso.