
Dizem que avó é mãe em dobro. Eu digo que é em triplo: ela cuidou de mim por bastante tempo na minha infância, na ausência de minha mãe. A avó que me acordava nas manhãs de inverno do Sul para ir para o colégio, vestindo-me com carinho o uniforme da escola em meio a espreguiçadas; servindo-me com amabilidade o pão quentinho com manteiga derretida antes de chegar o microônibus. Sempre me recordarei disso.
O que me realmente assustou-me foi a branquidão de seu rosto, a frieza de sua pele, a fraqueza de sua voz. Deus, onde foi parar a minha avó linda e loira, com energia para ir aonde bem entendesse, com economias suficientes para encher de presentes os netos, com disposição para acompanhar-me na cervejinha do final de semana? Por que os anos trouxeram para a minha “mãe tripla” manchas em sua pele? Por que os meses diminuíram a vitalidade de seu olhar? Por que os dias a fio roubaram sua energia de viver? Quando é que a vida foi acontecendo e não permitiu que eu não prestasse atenção nestes sinais do tempo?
Aprendi com seus bons e maus exemplos. Observei suas reações. Ouvi suas histórias. Lamentei suas perdas. Ri de suas piadas amarelas. Contei piadas sujas para que ela sorrisse amarelo. Cozinhamos, festejamos, choramos, ouvimos, lemos, dançamos, viajamos, torcemos (sempre, e sempre juntas) para o Grêmio, Aproveitamos o tempo. Talvez menos do que nós quiséssemos ou certamente menos do que eu pude.
A vó é só coração. Isso eu pude aprender com aqueles sinais do tempo que consegui perceber. Aprendi que uma pessoa que não guarda rancor é o ser humano mais lindo que pode existir. Essa é a vó, que sempre fez questão de lembrar-se apenas das palavras doces, que sempre me tratou por “Paulinha”, indistintamente com 05 ou 27 anos.
Vó, FORÇA, BOA-VONTADE, ESPERANÇA foi o que me ensinaste. Agora mostra que sempre estiveste certa.