31 de out. de 2007

CPI do futebol no país sede da Copa de 2014?

A Fifa oficializou ontem o Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014, em ilustre cerimônia com a presença do nosso presidente e de outras personalidades influentes do futebol nacional, entre elas, o insubstituível Paulo Coelho (!!!).

Começamos bem. Já sabemos que serão reservados milhões e milhões em infra-estrutura para a construção e reforma de estádios e inúmeras instalações que abrigarão os cerca de 500 mil turistas estrangeiros aguardados para o campeonato. E nem contamos a movimentação dos próprios conterrâneos. Serão R$ 1,2 bilhão de dólares! (Não, sr. inspetor chefe da Fifa, essa grana é nada perto do que o nosso país está acostumado a investir anualmente em educação, saúde, incentivo à indústria.) Tampouco consideramos ainda os imprevisíveis gastos com alguma eventual complicação nas licitações públicas que serão abertas para satisfazer a realização da Copa do Mundo em solo tupiniquim. Imaginem só o relatório de impacto econômico que o nosso país apresentará em 2014? Vergonha!

Li que o presidente da Fifa, Joseph Blatter, ficou admirado de ouvir falar da instalação da CPI do futebol. O quê? No país da seleção pentacampeã ousam utilizar a paixão nacional para patifaria? Não se impressione, presidente, por aqui tu encontras uma diversidade abissal de golpes baixos.

Querem invalidar a investigação de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro entre clubes, dirigentes e jogadores, justificando o financiamento da Copa por grandes empresas privadas. Essa é boa! Mais panos quentes? Mais empecilhos para clarificar de onde sai o dinheiro, para o bolso de quem é que vai... Afinal, no estatuto de defesa do torcedor não consta o princípio de “publicidade e transparência na organização das competições administradas pelas entidades de administração do desporto”? Isto é, se a CBF permitir que a CPI saia, não é? Pelo visto, a idéia da campanha nacionalista pró-Copa 2014 está a pleno vapor, tanto que poderá relegar a abertura deste inquérito.

Sem contar a questão da violência. Ainda bem que não temos, no Brasil, meninos atirando e matando dentro da escola, como nos EUA. A violência ainda não chegou a tanto por aqui. O nosso país tem problemas de violência comuns, como em outros países. Apenas problemas comuns.

Quanto a Porto Alegre ser uma das cidades escolhidas para os jogos? Escolheram o estádio do Colorado, né? Como diz a "insana" Irmã Selma: “eu vou rezar por todos. E quando eu rezo, acontece”!

29 de out. de 2007

Nunca vi isso em lugar nenhum!


Há algumas semanas, estive em uma destas lojas de lãs, linhas e produtos para artesanato – as chamadas “armarinhos”. Metida com as minhas velhas manias de artesã, procurava um fio especial, um cordão duplo, encerado e importado. Um apetrecho pouco comum, que eu já procurava há vários dias em outras lojas das redondezas da Avenida Osvaldo Aranha.
Naquele dia, aproveitei o intervalo de almoço do expediente da agência e corri na lojinha procurar o tal fio. Era um dia chuvoso e com fortes rajadas de vento. Nem o meu grande guarda-chuva me protegia da chuva que caía enviesada. Em frente à loja, como uma marquise, o toldo protegia transeuntes que esperavam uma brecha no fluxo de carros para atravessar a rua. A loja tinha duas vitrines grandes, repletas de almofadas estampadas e, entre elas, uma pesada porta de madeira. Um sininho acoplado ao batente avisava as atendentes a cada vez que um cliente adentrava.
A decoração chamava a atenção. A loja era limpa e bem iluminada, com piso antiderrapante. Uma das paredes estava coberta de certificados de cursos emoldurados. No mural lilás ao lado do caixa, ofertas de inscrição em cursos de bordado, arte em biscuit, fuxico e tantas outras artes em que se aproveitam retalhos de tecidos. O local tinha um aroma doce de incenso. Dizem que os aromas dos incensos estão relacionados aos problemas que se quer resolver. Bem, acredito que aquele que queimava apenas convidava as clientes a sentirem-se em casa, em seu próprio ateliê, absolutamente confortáveis; ele purificava o ambiente. Os guarda-chuvas ficavam dispostos em cestos profundos e decorados com técnicas de textura caseiras em tons pastéis. As prateleiras estavam inundadas de capas para almofadas. Em cima dos balcões avistavam-se porta-alfinetes em formato de moranguinho. O ambiente era todo fofinho: parecia uma montanha de edredons, dobrados uns sobre os outros, recém lavados, com cheirinho de sabão em pó.
Percebi que a loja era freqüentada por senhoras, presumo que com idades entre 50 e 70 anos; acho que eram umas quinze, ao todo. Muitas tinham os cabelos curtos e branquinhos, calçavam sapatos baixos e usavam óculos de lentes grossas. Eu era a guria que estava esperando o atendimento, meio perdida por lá. De salto alto, brincos grandes prateados e pulseiras barulhentas, com cara de braba típica dos dias de chuva.
As vendedoras eram jovens e discretas senhoras, que usavam aventais estilizados, falavam baixo e demonstravam muita agilidade para lidar com os grandes rolos de tecidos e para subir nas escadas em busca de itens mais altos.
Fiquei realmente surpresa com a tranqüilidade daquele lugar. Lá dentro, não se escutava ruídos de surdinas de carros, sirenes das ambulâncias do hospital que ficava logo em frente, o balanço violento das copas das árvores. Eu me apoiei no balcão central e deixei aquela paz me envolver. Por alguns momentos, esqueci do mal-humor e do fio que eu não encontrara em lugar nenhum.
Ao canto do meu olho não escapou um fato curioso. Um gato! Robusto e ágil, de pêlo curto e macio, saltitando de um balcão ao outro. Seu corpo era mais longo do que alto. Pelo visto, estava bem adaptado à vida dentro de casa, aliás, dentro daquele ambiente comercial. Eu não me assustei, apesar de não simpatizar com gatos e de ele ter saltado bem próximo ao meu braço. Ele simplesmente fazia parte da decoração da loja. O gato, de pelo tigrado, não era de nenhuma raça específica , nem tinha nada de especial, exceto o fato de misturar-se ao ambiente e confundir-se com as almofadas em que se deitava.
Logo fui atendida e, do caixa, observava o bichano. Com olhos atentos, ele passeava por entre as clientes, ia até a vitrine e voltava, até achar uma bolsa de crochê para acomodar-se em cima.
Peguei meu guarda-chuva e saí. Ainda ando atrás daquele apetrecho pouco comum.

24 de out. de 2007

Ele se foi sem que nos despedíssemos...

Fui até à rodoviária hoje. Fui lá para te dar um beijo, um abraço bem apertado e te desejar sucesso. Na verdade, mais que sucesso, fui até lá para te desejar PERSEVERANÇA. Acredito que seja normal sentir certo receio, afinal, esse “mundo novo” deve vir repleto de desafios e também de recompensa aos mais corajosos. Ousado tu já és para se aventurar assim em busca do teu destino. Mas perseverança, neste momento principalmente, é fundamental que tenhas sempre contigo. Talvez seja um pouco difícil ou cansativo no início, mas sei que a vida e a correria do dia-a-dia serão pequenas frente a tua disposição e aos teus sonhos.
Fui até à rodoviária para pedir que tu sejas forte como um riste e que não te machuques se algum detalhe não sair como tu planejas. Espero que aí encontres carinho e acolhimento, da mesma forma como te sentias em casa na minha. E, daqui a algumas semanas, quero notícias da tua vitória e da prosperidade que irá saborear por essas terras. É, PROSPERIDADE também é uma palavra legal para agora. A perspectiva de um cotidiano novo, em que os frutos serão colhidos com o tempo.
Bem, infelizmente não cheguei a tempo de te dizer tudo isso. “Ah, mas isso não vai ficar assim”, pensei. “Ele tem de saber que eu torço por ele, mas torço de verdade, sinceramente, e não apenas da boca para fora”. O “RP do século” reúne várias qualidades para se dar bem. Hum, considerando que o século acabou de começar, acho que tu ainda tens bastante tempo para brilhar.
Vai, amigo, menino prodígio em tantos sentidos. O pessoal de lá está sedento do teu talento. Um grande beijo já cheio de saudade.