23 de jun. de 2011

Efemeridades

Esses dias li sobre a teoria das "99 Vidas". Não cabe aqui explicar sobre o que se trata ou o que prega, vou apenas cuspir minha opinião entre um e outro dia remoído.

Se os dias nos consomem, não é porque deixamos. Com toda certeza. Não é por opção que passamos mais tempo em ambiente profissional do que em qualquer outro lugar ou com outras pessoas
que amamos. O fato é que, quanto mais acumulamos compromissos cotidianos, mais acumulamo-nos diante da própria vida.

São momentos de realização e planejamentos de felicidade prorrogados a segundo, terceiro, quarto plano. São pessoas interessantes que deixamos de conhecer por estarmos ligeiramente acumulados. E, assim, passamos pelo tempo desfilando o efêmero. Concretizando não aqueles sonhos planejados com tanta dedição, mas os programas que conseguimos marcar de última hora, no calor do momento. Passamos pelo tempo desfilando sua perda.

E que valor tem o efêmero? Qual o peso da volatilidade? Relatividades à parte, em se tratando de uma tristeza passageira, quanto mais veloz ela for, menos valorizada será. Dessa forma é até melhor. Agora, ve
jamos um amor, daqueles intensos, avassaladores. Porém voláteis e breves. Quanto mais rápido passarem por mim, mais peso terão. Afirmo sem qualquer sombra de dúvida. Há tempos desprezo o transitório; o temporário já não mais me basta. Porque a particularidade do que é intenso e avassalador não combina com a generalidade do efêmero. Não pode simplesmente ser raso, passar batido, disfarçar-se de lugar-comum. Não, porque eu não sou assim. A onda do mar, o voo da borboleta, a bola de sabão, o arco-íris depois da chuva: ainda que sejam lindos, são apenas efemeridades, repetitivas e absolutamente previsíveis.

Busco a intensidade, o arrebatamento, o entusiasmo. Vasculho o mundo e aventuro-me a perseguir não efemeridades e, sim, efemérides. Quero deparar-me com fatos interessantes, pessoas especiais, conhecimento, inovações. Quero o detalhe que ficará preso na minha memória, o escape de olhar cúmplice que me envolverá por completo, a gentileza à qual me entregarei até o fim dos meus dias.

Efemérides, quero retê-las em mim, torná-las patri
mônio do meu corpo e do meu pensamento, dignas de nunca mais serem esquecidas. Dignas de serem amadas.

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