5 de dez. de 2011

Sintaxe desordenada

Há poucas semanas, experimento o verbo participar. No sentido transitivo pleno, aquele capaz de envolver todos os sujeitos. Eu participo de uns poucos, eles participam de mim e nós participamos do mundo. E assim trocamos, mas não tanto: ainda deixo a desejar na troca de predicados; fico devendo.

A participação, que antes me tangenciava, agora me acerta em cheio, como um soco na cara. Não só tenho me envolvido muito mais intensamente, como sinto a vontade alheia dos sujeitos indeterminados de participarem de mim, de descobrirem o sujeito oculto que aqui dentro se esconde. A participação efetiva, com o mesmo peso profissional e pessoal, não chega até mim na forma de sorriso. Pelo contrário: aparece sim na forma de palavras rudes, como um choque adorável de "te liga", instigando-me e requerendo minha atitude. Palavras estas às quais respondo ainda com malemolência e insegurança, temendo a quebra da dura carapaça desse coração escorpiano. Outras palavras, estas infinitamente doces e macias, me vêm como contraposição a toda a aspereza de antes. E eu as tenho aceitado e correspondido de alma surpreendentemente aberta.

Na contramão dessa sintaxe desordenada, eu, sujeito composto de inúmeras personalidades, busco um complemento, ansiando por demonstrar minha enorme capacidade de morfar. Se tivesse que traduzir o sentido etimológico do termo participação no meu dia-a-dia, certamente eu falaria em interesse. Das pessoas na minha vida, meu na vida das pessoas, e de fazermos a diferença no mundo. Para somar ao interesse, também falaria em movimento. Sim. A necessidade de marcar a significância de um ser através de seu movimento e envolvimento com o mundo.

Sinto-me inundada por pessoas que se interessam por mim, pelo meu trabalho, pelos meus defeitos e qualidades, pela minha personalidade de moleca que tantas vezes é anulada pela minha irritante mania de não abrir-me com ninguém.
Vou ser eternamente grata a essas pessoas que estão, em tempo presente, fazendo a diferença para mim. Talvez elas não façam a mínima ideia da força que têm na minha mente e no meu coração; talvez elas não durem muito tempo em minha vida. Não importa: efêmeras ou perenes, estarão sempre comigo. Chega do intransitivo.

Abraço!

2 comentários:

Aureliano Santos disse...

Paula, Olá!

Em passagem por aqui li este texto.
Gostei do uso da sintaxe como a explicar sua participação na vida, no mundo e o seu envolvimento com as pessoas cotidianamente.
Legal essa ideia de deixar de ser intransitivo. Concordo com você. Ser transitivo é melhor. Ter complemento, ser complemento, precisar de complemento.
Abraço,
Aureliano

PAULA SALOMÃO disse...

Obrigada, Aureliano! Por sua visita, suas palavras, seu posicionamento. Orgulho-me de afirmar aos quatro ventos que posto aqui meus textos apenas sobre assuntos que realmente fazem a diferença para mim. E, neste sentido, você acabou por fazer parte deste meu pequeno universo.
Abraço!