29 de out. de 2007

Nunca vi isso em lugar nenhum!


Há algumas semanas, estive em uma destas lojas de lãs, linhas e produtos para artesanato – as chamadas “armarinhos”. Metida com as minhas velhas manias de artesã, procurava um fio especial, um cordão duplo, encerado e importado. Um apetrecho pouco comum, que eu já procurava há vários dias em outras lojas das redondezas da Avenida Osvaldo Aranha.
Naquele dia, aproveitei o intervalo de almoço do expediente da agência e corri na lojinha procurar o tal fio. Era um dia chuvoso e com fortes rajadas de vento. Nem o meu grande guarda-chuva me protegia da chuva que caía enviesada. Em frente à loja, como uma marquise, o toldo protegia transeuntes que esperavam uma brecha no fluxo de carros para atravessar a rua. A loja tinha duas vitrines grandes, repletas de almofadas estampadas e, entre elas, uma pesada porta de madeira. Um sininho acoplado ao batente avisava as atendentes a cada vez que um cliente adentrava.
A decoração chamava a atenção. A loja era limpa e bem iluminada, com piso antiderrapante. Uma das paredes estava coberta de certificados de cursos emoldurados. No mural lilás ao lado do caixa, ofertas de inscrição em cursos de bordado, arte em biscuit, fuxico e tantas outras artes em que se aproveitam retalhos de tecidos. O local tinha um aroma doce de incenso. Dizem que os aromas dos incensos estão relacionados aos problemas que se quer resolver. Bem, acredito que aquele que queimava apenas convidava as clientes a sentirem-se em casa, em seu próprio ateliê, absolutamente confortáveis; ele purificava o ambiente. Os guarda-chuvas ficavam dispostos em cestos profundos e decorados com técnicas de textura caseiras em tons pastéis. As prateleiras estavam inundadas de capas para almofadas. Em cima dos balcões avistavam-se porta-alfinetes em formato de moranguinho. O ambiente era todo fofinho: parecia uma montanha de edredons, dobrados uns sobre os outros, recém lavados, com cheirinho de sabão em pó.
Percebi que a loja era freqüentada por senhoras, presumo que com idades entre 50 e 70 anos; acho que eram umas quinze, ao todo. Muitas tinham os cabelos curtos e branquinhos, calçavam sapatos baixos e usavam óculos de lentes grossas. Eu era a guria que estava esperando o atendimento, meio perdida por lá. De salto alto, brincos grandes prateados e pulseiras barulhentas, com cara de braba típica dos dias de chuva.
As vendedoras eram jovens e discretas senhoras, que usavam aventais estilizados, falavam baixo e demonstravam muita agilidade para lidar com os grandes rolos de tecidos e para subir nas escadas em busca de itens mais altos.
Fiquei realmente surpresa com a tranqüilidade daquele lugar. Lá dentro, não se escutava ruídos de surdinas de carros, sirenes das ambulâncias do hospital que ficava logo em frente, o balanço violento das copas das árvores. Eu me apoiei no balcão central e deixei aquela paz me envolver. Por alguns momentos, esqueci do mal-humor e do fio que eu não encontrara em lugar nenhum.
Ao canto do meu olho não escapou um fato curioso. Um gato! Robusto e ágil, de pêlo curto e macio, saltitando de um balcão ao outro. Seu corpo era mais longo do que alto. Pelo visto, estava bem adaptado à vida dentro de casa, aliás, dentro daquele ambiente comercial. Eu não me assustei, apesar de não simpatizar com gatos e de ele ter saltado bem próximo ao meu braço. Ele simplesmente fazia parte da decoração da loja. O gato, de pelo tigrado, não era de nenhuma raça específica , nem tinha nada de especial, exceto o fato de misturar-se ao ambiente e confundir-se com as almofadas em que se deitava.
Logo fui atendida e, do caixa, observava o bichano. Com olhos atentos, ele passeava por entre as clientes, ia até a vitrine e voltava, até achar uma bolsa de crochê para acomodar-se em cima.
Peguei meu guarda-chuva e saí. Ainda ando atrás daquele apetrecho pouco comum.

3 comentários:

Patrício disse...

Hey, eu acho que fui contigo nessa loja, né? Eu lembro que fomos em uma que tinha um gato : )

Beijos!!! Continua escrevendo que tá legal!

Karin Keller disse...

Ô menina, não sabia que eras escritora! Parabéns, beijos!

Renata disse...

Oii Paulinha, se souber o nome certinho em ingles eu posso procurar aqui pra ti, sabe q to na alemanha, né? no q puder ajudar.. estou aqui com planos de visitar o brasil mes q vem, se puder esperar mais 4 ou 5 semanas, hehe
bjinhooo
Renata Nicoleit